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sábado, 30 de junho de 2007


Oi pessoal, quando passarem por aqui, deixem um comentário, ok?

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Certeza (Fernando Sabino)

De tudo, ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...

Portanto devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro...

quarta-feira, 6 de junho de 2007

A fome mata em silêncio

Chorus

Há chorus na noite que ninguém ouve
Como também não entende
A política das flores num canteiro
A forma dançando na sombra
Oculta em sua negra sintaxe

Há dias cinzentos que ninguém canta
Emblemas de teia de aranha
Onde o orvalho cria uma língua de reflexos
E a dor que percute em silêncio
Como
lágrimas numa concha

Tantas coisas passam em branco
Como
o tempo no verso dos calendários
Os jogos de nuvens no crepusculo
As ações da luz que ninguém enxerga
Mas nada conspira contra o impulso supremo

Augusto Contador Borges


UM CÉU SEM ANJOS DE ÁFRICA


Detinha
a menina de cinco anos
tinha pai e tinha mãe
e tinha duas irmãs, Senhor!

Detinha
a menina de cinco anos
tinha uma filha de retalhos de chita
e fazia duas covinhas de ternura na face
quando sorria, Senhor!

Detinha
a menina de cinco anos
tinha uma filha de ágeis pernas de pano
olhos brilhantes de cabeças de alfinete
e fulvos cabelos de maçarocas maduras
que a febre derradeira da Detinha
não contaminou.

Olhos cerrados suavemente
boneca Detinha dos seus pais
adormeceu de tétano para sempre
mãozinhas postas sobre o peito
um vestido de renda branca
mais um anjo nosso partiu
no adeus silencioso de boneca
verdadeira num fúnebre berço branco
nossa Detinha tão pura na Munhuana
que até ainda não sabia que era mulata.

Oh! África!
Quantos anjos já nasceram das tuas Munhuanas de amor
e quantas Detinhas partiram para sempre dos teus braços
e quantos filhos inocentes deixaram o teu colo maternal
geraram rios e rios de lágrimas no teu rosto escravizado
e dormiram sem pesadelos na vasta solidão
de um coval mínimo de criança infelizmente
sem as duas covinhas na face
quando sorriam, Senhor!
(...)
José Craveirinha

Dorival Caymmi



Marina


Marina, morena, Marina,
você se pintou
Marina, você faça tudo
mas faça um favor
Não pinte esse rosto que eu gosto,
e que é só meu
Marina, você já é bonita
com o que Deus lhe deu
Me aborreci, me zanguei,
já não posso falar
E quando eu me zango, Marina,
não sei perdoar
Eu já desculpei tanta coisa,
você não arranjava outro igual
Desculpe, Marina, morena,
mas eu tô de mal
De mal com você,
de mal com você...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

"Os Sete Sapatos Sujos" (Mia Couto)



Não podemos entrar na modernidade com o atual fardo de preconceitos.

À porta da modernidade precisamos de nos descalçar.
Eu contei “Sete Sapatos Sujos” que necessitamos de deixar na soleira da porta dos tempos novos.
Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:

Primeiro Sapato: A idéia de que os culpados são sempre os outros.

Segundo Sapato: A idéia de que o sucesso não nasce do trabalho.

Terceiro Sapato: O preconceito de que quem critica é um inimigo.

Quarto Sapato: A idéia de que mudar as palavras muda a realidade.

Quinto Sapato: A vergonha de ser pobre e o culto das aparências

Sexto Sapato: A passividade perante a injustiça.

Sétimo Sapato: A idéia de que, para sermos modernos, temos que imitar os outros.

Ferreira Gullar


TRADUZIR-SE


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?