Seja bem vindo! Você é meu visitante número...

Free Counters

domingo, 22 de abril de 2007

Crônica


MINHA CIDADE

Telma Pereira da Silva

Às cinco da manhã, a cidade começa a despertar com o barulho rouco dos carros que chegam para mais um dia de feira. As mulheres acordam cedo para comprarem verduras fresquinhas e aproveitam para pôr a fofoca em dia – distração que ajuda a esquecer os dissabores da vida.

Gente de todas as idades chega dos povoados para apreciar as novidades vindas de fora. Baratas, muito barata: “Duas peças por cinco reais!” grita o camelô da banca de roupas, cercado por uma multidão de mulheres que disputam as peças.

Em frente às bancas de verduras está a “Cesta do Povo”, que mantém a mesma fachada azul e branca da sua inauguração, construída sob uma calçada que inicia rente ao chão e termina com quase três metros de altura - superando a inclinação da rua – onde estão situados botecos e logo atrás, dez elevados degraus levam o homem de volta a um curioso passado no Museu Arqueológico da cidade. Tão visitado por alunos e professores das cidades vizinhas, curiosos de outros estados e países, citado em artigos de revistas e páginas da internet, mas ignorado por grande parte da comunidade local.

Nos bancos da praça vizinha, homens conversam sobre futebol e briga de galo. Crianças correm felizes tropeçando no calçamento irregular e inclinado da rua. Uma delas dá de cara no muro da Câmara de Vereadores, onde funcionários públicos estão reunidos com a direção do sindicato no salão encarpetado de aparência arredondada, para mais uma etapa da luta contra as injustiças dos administradores que não cumprem com o seu dever.

E assim, mais uma manhã chega ao fim, entre buzinas, gritos, conversas. O movimento vai diminuindo deixando na rua apenas a sujeira, o cheiro fétido das frutas e peixes que estragaram sob o sol escaldante.

Um trator desaparece na infinita “Rua da Batedeira” com a carreta lotada de pessoas que vão espremidas entre sacolas e bicicletas, deixando para trás as casas encostadas, cochichando umas com as outras. Agora só se consegue ver o encontro das árvores infrutíferas formando um ângulo agudo.

Nas serenas casas antigas, idosos jogam dominó embaixo das árvores. Escuta-se o choro do vento na tranqüilidade do meio dia.

Essa é a minha cidade. Não fica no centro de lugar nenhum, mas se chama Central e é o epicentro da Arqueologia na Bahia.

Nenhum comentário: